01/07/2007

Tristes presidentes

Durante seis meses vamos ser presidentes de um dos maiores blocos económicos do Mundo. A União Europeia é dirigida a partir de Lisboa. É um sortilégio dos deuses. Um destino sem futuro. Uma condescendência. Um paradoxo.
Devemos estar gratos à União Europeia.
Deu-nos milhões para nos transformarmos num país competitivo. E, seguramente por distracção, vai entregar-nos muitos mais milhões nos próximos sete anos. É certo que muito desse dinheiro deu um solavanco a Portugal. Empurrou-o para a frente como se empurra um carro sem bateria. Mas o carro não pegou. O motor estremeceu, ainda ultrapassou um ou outro país, mas rapidamente se fixou no seu local de origem. Na cauda da Europa.

Felizmente ingressaram novos países e olhando a nova classificação abandonámos a cauda e sentámo-nos nas coxas europeias. Bem longe da frente e por desgraça daqueles que entraram e não por nossa virtude. Daqui por dez anos, lá estarão os iniciados a subir e nós a escorregar outra vez para a cauda do animal chamado Europa.Mas não é apenas o empurrãozinho que devemos à UE. Graças à generosidade e a esse atributo genuinamente português de ganhar algum sem se mexer, multiplicaram-se fortunas.

Fazendo de conta que somos um Estado a sério, recordo-me de centenas de processos de burla ao Fundo Social Europeu que, na altura, embelezavam as secretarias judiciais e davam manchetes nos jornais anunciando escândalos que seguramente iam acabar com a corja de parasitas nos bancos dos réus do País inteiro. A Europa acreditou. Veio mais dinheiro. E com a graça de Deus fomos esquecendo os burlões, desculpando uns, aplaudindo outros e os processos lá foram, disciplinados e ordeiramente, para os arquivos sem grandes sobressaltos.

Portámo-nos bem, como sempre!E agora, voltam a entregar-nos a presidência. Tiveram algum cuidado. Apenas seis meses. Mas durante esse tempo vai a UE conhecer o esplendor da governação à portuguesa. Já estou a ver Sarkozy a despedir o primeiro professor que contar uma graçola a seu respeito e não duvido que o sucessor de Blair vá meter na ordem, ou seja, na rua, aquele que se atrever a escrever uma ironia num dos seus cartazes. Não admira. Sabe-se que o nosso Governo declarou guerra à ironia.

Seguramente o aeroporto de Atenas vai fechar porque dá prejuízo e julgo que lhe daremos os seis meses da nossa presidência para fazerem estudos sobre um novo aeroporto.

E os jornalistas do ‘Le Monde’ a ganirem com a lei sobre a imprensa que lhe vamos ditar.

E o desemprego a aumentar e, por aqui, a estimular belgas e holandeses a aprender como se gamam fundos europeus para se safarem. Quantas escolas irão fechar na Irlanda durante este semestre. E maternidades em Itália?Vamos ensinar-lhes como é. Determinação, autoritarismo e fazer de conta que se faz. No fim poderemos dizer que a presidência portuguesa foi um sucesso. Como sempre, aliás.

Francisco Moita Flores

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