Um princípe, andando à caça, ferira com uma flecha um pombo que fora cair junto de um regato.
Um escravo seu, ao ir buscar-lho, vira, sem ser visto, três princesas tomando banho.
Ao sabê-lo, pé ante pé, o princípe aproxima-se do local que lhe fora indicado, ouvindo as conversas das banhistas. Dizia a mais velha:-"Se eu casasse com o princípe todos os dias lhe daría boas iguarias, nunca as repetindo". "Pois eu", referia a do meio, "oferecer-lhe-ía os mais lindos panos que no mundo uma mulher pudesse tecer". E, a mais nova disse:-"Eu dar-lhe-ía um filho com um sol no peito, a lua na testa e, junto das orelhas, duas estrelas".
O princípe nada mais quis ouvir, e rápidamente volta a casa para expedir emissários, a convocar os datos (principais) para uma reunião na presença de todos os seus súbditos.
Reunidos que foram, anuncia-lhes desejar casar-se, para o que, e embora contra os usos e costumes, lhes vinha perguntar se veriam com agrado o seu casamento com a mais nova das três princesas. Todos concordaram com a escolha, efectuando-se logo ao outro dia o casamento.
Ao aproximar-se o momento do nascimento do primeiro filho, a princesa pediu às irmãs que a acompanhassem. Estas, invejosas da sua felicidade, estabeleceram um terrível plano. Convenceram a mulher que lhe assistia, a dizer à parturiente que, para ser feliz, deveria tapar os olhos com um pano, o que fez.
As irmãs, enquanto não lhe tiraram o pano dos olhos, substituiram rápidamente os dois gémeos, que tinham nascido com os sinais prognosticados pela princesa, por dois cachorros, em seguida levaram as crianças escondidas num cesto até à floresta próxima, onde as lançaram no oco tronco duma velha árvore.
A princesa, ao apresentarem-lhe os dois cachorros como filhos, desatou a chorar perdidamente com o tremendo desgosto.
O princípe, ao regressar, sentindo-se logrado e cheio de repugnância pela princesa, mandou-a prender à entrada da casa, como se de uma cadela se tratasse, alimentando-a de igual modo.
Na floresta, as feras protegeram as crianças, sendo alimentadas, em especial, pela cadela, mãe dos dois cachorros.
Meses passados, uma velha andando à lenha, encontrou as crianças, que levou para sua casa, tendo porém o cuidado de as esconder, para não serem vistas pelas tias, que as mandariam matar.
Des anos passados, as duas crianças pediram à sua protectora que lhes arranjasse dois galos para ganharem apostas quando entrassem em desafios. a velha só impôs como condição que nunca aparecessem em público com os sinais do rosto destapados.
Os galos, apesar de parecerem fracos, a todos ganhavam sem dificuldade. Ao princípe chegou a notícia de haverem duas crianças que possuiam dois galos invencíveis, que dominavam fácilmente todos os que com eles combatiam.
O princípe fez comparecer dois dos seus mais aguerridos galos para lutar com o das crianças, mas foram, sem grande esforço, logo vencidos.
Não se podendo conformar com a derrota, manda comparecer os dois amis fortes galos de todo o reino, assistindo ele mesmo aos combates. As crianças aceitaram o desafio mas impuseram a condição de, caso os seus galos fossem vencedores, o princípe lhes entregar a escrava que viram presa, como se fosse uma cadela.
Mais uma ves o galo das crianças venceram os seus perigosos rivais. o princípe, cheio de admiração, convidou as crianças para a sua habitação, dizendo que só depois de estar com os donos do extraordinário galo, lhes entregaría a escrava.
Logo que chegaram, pediu o princípe às crianças que lhe dissessem de quem eram filhos e porque andavam com parte do rosto oculto. Então as crianças contaram a história da sua vida, mostrnado ao princípe os sinais que destaparam.
Rapidamente todos, pai e filhos, correram para a entrada da habitação real a fim de libertar a desgraçada da princesa. O princípe, chorando junto dos filhos, pediu perdão à princesa infeliz, mandando logo matar as duas irmãs, causadoras de todo o mal.
In: Mitos e Contos do Timor Português;
Correia de Campos;
Agência-Geral do Ultramar
2 comentários:
Bonito. O amor venceu o mal. Gostei muito.
Bj
Felizmente que na vida nem tudo acaba mal... A história é uma grande lição. (Só que muita gente não saberia perdoar os anos de sofrimento...ou, aguentá-los)
Bjo
Ju
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