O mito da formação da água e do sangue
Deus baixara à Terra para convidar Maliloique a governar os homens. Tudo corria na melhor ordem quando, subitamente, uma agitação estranha se notou na humanidade, levando os homens à desordem e à guerra.
Maliloique, estranhando o facto, vem a apurar ter sido o próprio Deus que por maldade o fizera.
Indignado, procura Deus. Mas o Criador do Mundo, adivinhando ao que viría, recusou recebê-lo, e por isso manda seu filho perguntar ao que vinha.
Maliloique respondeu que o assunto a tratar apenas ao pai dizia respeito, e não ao filho, acrescentando, terminantemente, que dali não saíria enquanto por Deus não fosse recebido.
Não houve outro remédio senão mandá-lo entrar.
Maliloique, mal avistou Deus,disse-lhe irónico: _"Sim, senhor: bonita coisa! Pedir-me que governasse os homens, para depois me pregar a partida de ter semeado a desordem no Mundo, o que deu em resultado andarem como doidos lá por baixo a matarem-se uns aos outros!"
Deus atrapalhado, negava ter sido o autor.
Maliloique retorquiu-lhe: _"Se não foste tu, foi alguém por ordem tua!"
Deus, porém, continuava na negativa.
Exasperado, não podendo mais conter-se, Maliloique exclama: _"Mas há uma maneira fácil de saber a verdade: se teu filho se ferir com um golpe que lhe vou dar, é porque eu tenho razão; caso contrário, te-la-ás tu".
Súbitamente, sem que Deus o pudesse evitar, saca da catana, aponta-a ao pescoço do filho divino, e decepa-lhe, acto contínuo, a cabeça.
Maliloique, com ares triunfantes, volta-se para Deus e diz-lhe: " Sempre tinha ou não razão?!"
Deus plácidamente, sem mostrar cólera ou indignação, responde-lhe: "Já que cortaste a cabeça ao meu filho, leva-a para a Terra juntamente com estas pedras, e uma agradável surpresa irás ter, se procederes como te vou indicar: põe no chão, em frente da tua casa, as pedras, e em cima delas, nunca no chão, a cabeça do meu filho".
Maliloique assim procedeu, e logo surgiu ali um enorme lago. Admirado pelo aparecimento da água, pela primeira vez no Mundo, foi contar o milagre a Deus, que em seguida lhe disse: Bebe daquela água, que é sangue de meu filho, em seguida divide-a por todo o Mundo para que os homens a tenham!"
In: Mitos e Contos do Timor português;
Correia de Campos;
Agência -Geral do Ultramar.
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