03/02/2008

Xanana Gusmão/Suharto

Xanana Gusmão recorda «lado bom e lado mau»
Díli, 27 Jan (Lusa)


- O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, recorda "um lado bom e um lado mau na passagem pela História" do ex-Presidente Suharto da Indonésia.

"Suharto teve um lado bom e um lado mau" como Presidente da Indonésia, declarou Xanana Gusmão à Agência Lusa.
O ex-comandante da resistência timorense recordou que o ex-ditador indonésio "foi o promotor do desenvolvimento de um grande país, de um país difícil".
"Não foi fácil desenvolver um país assim, que é o quinto país mais populoso do mundo", acrescentou Xanana Gusmão.
Por outro lado, "Suharto teve os seus lados fracos, sobretudo a violação dos direitos humanos, a ditadura e a corrupção", afirmou Xanana Gusmão à Lusa.
"Quando estive na prisão (de Cipinang, em Jacarta), eu costumava encontrar-me com jovens universitários indonésios e dizia-lhes que não podiam olhar apenas para o lado mau mas também para o lado bom para avaliar uma pessoa no fim da sua vida", sublinhou o ex-comandante da guerrilha timorense.
Xanana Gusmão, para quem Suharto "teve algum brilho em várias questões", coloca a ditadura indonésia no contexto da Guerra Fria.
"O relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR) não refere apenas a culpa da Indonésia mas também a culpa de toda a comunidade internacional", explicou.
Xanana Gusmão nunca se encontrou com Suharto, que esteve no poder enre 1965 e 1998.
"Em 2001, fui ao Palácio de Sândalo (em Jacarta), mas Suharto estava doente e encontrei-me com uma das filhas", contou Xanana Gusmão.
"Eu transmiti à filha de Suharto que o importante para nós foi vencer a luta de libertação".
"A filha dele pediu a reconciliação com o povo de Timor e para compreendermos o contexto de reforma que se estava a processar na Indonésia", contou Xanana Gusmão à Lusa.
"Quando eu ganhei as eleições presidenciais (em 2001), Suharto mandou saudações", recorda também o actual primeiro-ministro timorense.
"Recordo-o como um agente histórico, um actor da História do Sudeste Asiático", disse ainda Xanana Gusmão à Lusa.
"Os políticos vendem a sua alma por lucro", escreveu Xanana Gusmão em 1995, na prisão de Cipinang, numa "Carta do Comandante" incluída, em 2005, num álbum exaustivo de fotografias e ensaios que assinalou os 50 anos da independência da Indonésia.
"Os líderes praticam o cinismo, uma política de duas caras cujo objectivo é não apenas a opressão do seu próprio povo mas, ainda pior, são cúmplices da opressão de outros", escreveu o prisioneiro Xanana Gusmão sobre a ditadura de Suharto.
"A verdadeira independência é o reconhecimento da liberdade dos outros", acrescentava a "carta", reproduzida no livro "Indonesia in the Soeharto Years".
Xanana Gusmão acrescenta, na mesma declaração, que "quando (o ex-primeiro-ministro australiano) Paul Keating se inclina perante o assassino Suharto, desce mais baixo do que (o ex-Presidente filipino) Fidel Ramos obedecendo às ordens de Ali Alatas", antigo chefe da diplomacia indonésia.


PRM.
Lusa/fim
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Xanana Gusmão assiste a funeral «para esquecer o passado»
Díli, 28 Jan (Lusa)

- O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, assiste hoje ao funeral do ex-ditador indonésio Suharto, que em 1975 ordenou a ocupação da antiga colónia portuguesa, durante a qual foram mortos cerca de 200.000 timorenses, anunciou fonte oficial.


O porta-voz do Governo, Agio Pereira, informou que Xanana Gusmão partiu na manhã de hoje de Díli com destino a Solo, Java Central, onde será enterrado Suharto, falecido no domingo, em Jacarta, aos 86 anos, após 23 dias de internamento hospitalar.
"A presença do nosso primeiro-ministro no funeral de Suharto significa que queremos esquecer o passado e encarar as futuras relações entre os dois países de uma maneira positiva", indica um comunicado oficial.
Agio Pereira sublinhou que Xanana Gusmão "irá ao funeral do ex-presidente como expressão de reconhecimento e gratidão do povo de Timor-Leste a Suharto por aquilo que fez de positivo no país durante os 24 anos de ocupação indonésia".
O porta-voz acrescentou que as tropas indonésias, sob a ditadura de Suharto, assassinaram muitos civis e independentistas nesse período, mas que as forças ocupantes também contribuíram para o desenvolvimento das infra-estruturas e recursos humanos de Timor.
A 17 de Janeiro, quando Suharto completava duas semanas de hospitalização, o Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, pediu aos timorenses que perdoassem o ex-ditador.


OM.
Lusa/fim.
In: http://clix.expresso.pt

Quanto cinismo!
A paz e o bem estar baseados em cinismo nunca serão verdadeiras.
Não acredito que é isso que o povo quer.
Perdoar até pode ser, mas pra isso existe Deus que certamente saberá tratar do assunto.
Ou os senhores Ramos Horta e Xanana Gusmão agora também se acham deuses?
"contribuiram para o desenvolvimento das infra-estruturas e recursos humanos de Timor", claro que sim, para os próprios indonésios usufruirem enquanto lá viveram, ocupando uma terra que não lhes pertencia, mas que destruiram quando sairam porque aquilo não era dos timorenses.
Esquecer a dor, a tortura, a morte de inocentes...nunca!
Esquecer será o mesmo que dizer que a luta do povo timorense foi em vão.
Esquecer será o mesmo que admitir que não se aprendeu a lição que acredito que o povo aprendeu.

Laumalai

1 comentário:

Paula Viotti disse...

Não acredito que o sentido de "esquecer" seja apagar da memória.
ESQUECER, neste caso, é ultrapassar.
O Senhor Primeiro Ministro e o Senhor Presidente mostraram ao Mundo que são perseverantes e que, apesar da guerra e resistência travadas durante a ocupação indonésia, o que pretendiam era uma independência rodeada de PAZ. Eu acredito na paz que estes dois grandes homens proclamam.

Daqui de Portugal, eu acredito.