05/02/2008

Fretilin acusa vice-PM de «nepotismo»

A bancada da Fretilin no Parlamento acusou hoje de «nepotismo» o vice-primeiro-ministro de Timor-Leste, José Luís Guterres, exigindo a sua demissão.
O deputado Francisco Branco, em nome da Fretilin, acusou José Luís Guterres de ter beneficiado a sua mulher quando ocupava o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, em 2006.
Em causa está o aumento de salário de Ana Maria, mulher de José Luís Guterres, «para pelo menos o dobro do que devia receber como funcionária local» da representação em Nova Iorque, explicou o ex-primeiro-ministro Estanislau da Silva à Agência Lusa.
«José Luís Guterres concedeu à esposa um salário de diplomata, tomando uma decisão unilateral, num acto de abuso de poder que violou os princípios éticos», acusou Estanislau da Silva, também deputado da Fretilin na actual legislatura.
José Luís Guterres, contactado pela Lusa, afirmou que as acusações da Fretilin «são politicamente motivadas para desacreditar o actual governo», liderado por Xanana Gusmão.
«Rejeito totalmente as acusações e estou disponível para responder perante uma comissão de inquérito», acrescentou o vice-primeiro-ministro, que foi ministro dos Negócios Estrangeiros no primeiro governo de transição formado na sequência da crise política e militar de 2006.
Nessa altura, José Ramos-Horta, que chefiava a diplomacia timorense quando foi convidado a formar o II Governo Constitucional, escolheu José Luís Guterres para lhe suceder na pasta dos Negócios Estrangeiros.
José Luís Guterres ocupava, até aí, o posto de embaixador de Timor-Leste nas Nações Unidas.
«Quando fui convidado para o governo, tinha duas opções: ou aceitava servir o país de acordo com o que me era proposto ou continuava a viver com a família em Nova Iorque», explicou à Lusa.
«A minha família teria ficado na rua e os meus filhos perderiam o ano escolar se não encontrássemos uma solução».
«Falei com José Ramos-Horta e com os directores do MNE, incluindo o então secretário-geral João Câmara, e eles compreenderam a situação», acrescentou José Luís Guterres nas declarações à Lusa.
A mulher de José Luís Guterres passou a ocupar «um cargo de nomeação política que, por isso, está sempre à consideração de quem ocupa o cargo de MNE», explicou o actual vice-primeiro-ministro.
«Era um lugar temporário», sublinhou José Luís Guterres.
Ana Maria recebia, segundo o marido, 2.800 dólares norte-americanos de ajudas-de-custo mensais, «o que não é muito para quem conheça o custo de vida em Nova Iorque», nota José Luís Guterres.
«Quanto à acusação de uma transferência ilegal, referia-se ao montante da renda de um apartamento de dois quartos, fora da cidade, no valor de 1.700 dólares», afirmou ainda José Luís Guterres à Lusa.
Ana Maria, natural de Moçambique, é licenciada em Sociologia e tem um mestrado em Globalização e Movimentos Sociais, «o que a habilitava ao lugar para que foi nomeada», frisou ainda José Luís Guterres.
A mulher do vice-primeiro-ministro continua a desempenhar funções na missão de Nova Iorque, e o seu caso «está em apreciação pelo ministro dos Negócios Estrangeiros», Zacarias da Costa, adiantou José Luís Guterres.
Estanislau da Silva adiantou à Lusa que «a Fretilin tem outros casos de corrupção e nepotismo para levantar na próxima semana no Parlamento».
As acusações contra José Luís Guterres no plenário provocaram o repúdio de vários deputados dos partidos que integram o Governo da Aliança para Maioria Parlamentar.
Diário Digital / Lusa
05-02-2008 11:35:00


In:http://diariodigital.sapo.pt

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