Díli, 21 Set (Lusa)
- O português e o tétum continuarão sendo as línguas oficiais do Timor Leste, reafirmou nesta sexta-feira à Agência Lusa o presidente timorense, José Ramos Horta, defendendo, porém, o "reequacionamento dos métodos de ensino", que suscitou críticas da oposição.
"Não há alteração na política fundamental estabelecida na Constituição da República de termos duas línguas oficiais, português e tétum", declarou Ramos Horta, em entrevista à Lusa.
"O português avançou muito nestes anos, com crianças aprendendo em português", observou o chefe de Estado, que sugere, "talvez no próximo ano", a realização de um "seminário de especialistas para equacionar melhores métodos de ensino".
Para o presidente do Timor Leste, "o português é extremamente importante para a identidade do país, mas a Constituição sempre falou em duas línguas de trabalho, o bahasa [indonésio] e o inglês".
Na semana passada, à margem da apresentação do programa do governo no Parlamento timorense, o presidente da Fretilin, Francisco Guterres "Lu Olo", criticou a intenção de reequacionar as línguas oficiais e colocou em causa a utilidade dos 60 milhões de euros disponibilizados por Portugal para projetos de cooperação, que incluem o ensino da língua portuguesa.
"Sem retirar ao tétum e ao português o estatuto privilegiado de línguas oficiais, vamos ver como podemos manter o bahasa indonésio, porque temos um vizinho de 250 milhões de habitantes e há muitos milhares de timorenses que falam bahasa e vão continuar a estudar na Indonésia", afirmou José Ramos Horta, Nobel da Paz em 1996.
É também intenção da liderança timorense investir no inglês, "que representa o acesso à ciência e à tecnologia", acrescentou o presidente.
O programa de governo, aprovado sábado passado no Parlamento, contém uma alínea que propõe "o reequacionamento da problemática da língua oficial de ensino e do ensino de outras línguas, incluindo as línguas nacionais, o inglês e/ou o indonésio, como línguas de trabalho".
Tanto o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, como o ministro da Educação, João Câncio, declararam que este enunciado não pretende abrir as portas à revisão do artigo 2º da Constituição, mas insistem em mudanças nos métodos e condições em que a Língua Portuguesa é ensinada nas escolas timorenses.
Em declarações à Lusa na semana passada, em reação às críticas da Fretilin, o vic-chanceler português, João Gomes Cravinho, responsável pela área de cooperação do Ministério da Relações Exteriores, afirmou não ter "qualquer indicação" de que a língua portuguesa estivesse sendo repensada no Timor Leste.
Cravinho disse que nas conversas que manteve no início deste mês com o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, durante a visita ao Timor Leste, "houve concordância quanto à necessidade de reforçar o apoio à língua portuguesa".
In:http://www.agencialusa.com.br
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