13/10/2007

Computadores na escola por Francisco José Viegas, Escritor

JN - 17/09/2007

Uma das grandes apostas deste Governo em matéria de Educação é a entrega de computadores nas escolas. Uma série comovente de reportagens televisivas e fotográficas mostra o primeiro-ministro e a ministra da Educação entregando portáteis a escolas igualmente comovidas e agradecidas. A generalidade das pessoas acredita, piamente e cheia de boa-fé, que este é um passo decisivo para a melhoria do aproveitamento escolar e para que o país mostre níveis superiores de rendimento científico.

Longe de mim criticar a iniciativa. O conhecimento da rede (net), o seu manuseamento, o trabalho de pesquisa, o incentivo à partilha de informação constituem valores modernos e essenciais - e, certamente, um passo para a democratização do acesso à informação. Simplesmente, ao mesmo tempo que os computadores são entregues nas escolas, ao mesmo tempo que a sua vulgarização é apadrinhada pelo próprio Ministério da Educação, é necessário criar alguns mecanismos de defesa. E uma série de aversativas não é prejudicial; convém estarmos avisados.

Suponho que qualquer um tem o direito de duvidar sobre o argumentário novitecnológico que está a ser usado. Por exemplo, aquele que dizia "às vezes os professores desenhavam um losango e não se percebia muito bem, porque não tinha jeito para o desenho; agora, com computador, está tudo resolvido".

Deixamos de usar a mão, de apreender "o processo", de esperar pelo desenho - tudo aparece no computador; é uma gravíssima perda antropológica.

Como já deixámos de convencer os meninos a estudar a tabuada e a exercitar a memória. É hoje frequente ver alunos do 9.º ano de escolaridade incapazes de efectuar operações matemáticas simples sem o apoio de calculadoras - somar, multiplicar, dividir, subtrair.

Há uma excessiva preocupação com "o aspecto que as coisas têm" e a facilidade com que se estuda. Pode haver erros de percurso sérios se não mostramos que "o aspecto que as coisas têm" é resultado de um longo processo de maturação e de experiência, de tentativas e de erros; da mesma forma, estudar não é fácil - implica participar nesse processo de tentativas, erros, sacrifícios (não ir ao cinema para ficar a praticar equações), coisas absurdas (decorar fórmulas essenciais, como a tabuada, os elementos químicos, as declinações - ou seja, as ferramentas). Ou seja, pode haver recompensas. Recompensas imediatas, por que não? Mas a recompensa pode ultrapassar a dimensão de prazer puro - pode significar que se ultrapassou um ritual de iniciação (ao conhecimento dos números, da métrica ou das dinastias).

Grande parte destas guerras estão perdidas (por exemplo, a utilização de calculadoras no Básico, onde fazer cópias, ditados e decorar a tabuada é crime). Por isso, a fase seguinte, a utilização de computadores portáteis para os trabalhos escolares deve, simplesmente, ser acautelada.

1) A net fornece o melhor e o pior, o erro e o verdadeiro, o complexo e o lugar-comum; ver multidões de alunos a plagiar a Wikipédia e dados incorrectos dos blogues não me parece um avanço.

2) A pesquisa na net substitui, para todos eles, a frequência dos livros e das bibliotecas, bem como a leitura dos textos originais;

3) A proximidade entre a "pesquisa" na net e o mundo lúdico e desviante da Internet pode constituir um perigo fatal é como procurar dados sobre "estudo do meio" e, ao mesmo tempo, entrar no msn.

4) A promiscuidade entre aquilo que é trabalho e aquilo que é jogo e divertimento acaba por prejudicar, naturalmente, o que é trabalho.

5) É fácil plagiar na Internet; a maior parte dos trabalhos escolares que eu vi não passa de um conjunto de cópias descaradas de patetices, e os professores vão perder muito do seu tempo a detectar esses plágios (eu sei que basta o Google...).


Seria interessante ouvir os professores. Eles sabem mais do que os "técnicos de educação".

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