Xanana lembra à Austrália acordo brindado com Alatas durante a ocupação O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, lembrou hoje que a discussão sobre o gás do campo petrolífero Greater Sunrise só existe porque a Austrália brindou com a Indonésia a partilha das riquezas timorenses.
Xanana Gusmão, que hoje esteve em Vemasse, Baucau, a apresentar o "seu" Plano Estratégico de Desenvolvimento, disse que não aceita por isso a solução da Woodside para o campo de Sunrise, mas também porque não está disposto a continuar a ver os recursos das águas que, pela aplicação das 200 milhas marítimas à sua Zona Económica Exclusiva, seriam timorenses, a beneficiar sobretudo a Austrália.
"Foi para lá que foram as estruturas em terra do outro bloco, agora as que são para o Greater Sunrice têm de vir para Timor-Leste, até porque se encontra mais perto da costa timorense", defendeu.
Perante as diligências australianas, fez uma lembrança: o Greater Sunrise só tem discussão porque o Governo australiano assinou com a Indonésia, que ocupava então Timor-Leste, em 1989, a partilha das riquezas timorenses, brindando com Ali Alatas.
Recebido em Vemasse com “pompa e circunstância” à maneira tradicional, Xanana Gusmão ouviu do chefe de Suco (presidente de Junta) as carências e realizações locais, antes de começar a desfolhar o “seu” Plano.
Apesar de rouco, manteve-se durante várias horas a falar sobre o passado, o presente, e o futuro que tem planeado.
Lembrou a resistência dos timorenses para chegarem à independência de hoje e fez a comparação entre os países frágeis como Timor-Leste e países emergentes como o Japão e Singapura, ou a zona económica especial chinesa de Hong-Kong.
“O segredo para o conseguirem foi a aposta nas infra-estruturas”, disse.
Expôs detalhadamente os planos do governo que passam, principalmente, pelo petróleo e gás natural do Mar de Timor.
A construção de uma refinaria em Betamo, de uma plataforma logística no Suai, de uma fábrica para processar o gás natural em Basso.
Exibiu projecções e maquetes num “power-point” e explicou para que servirá cada uma das instalações previstas.
Anunciou grandes projectos de obras públicas, como a construção de um novo aeroporto e de um porto em Tibar, com três ponte-cais e uma zona industrial associada, sendo o actual porto transformado numa marina de recreio, além da construção de um porto pesqueiro em Laga ou Manatuto.
Não esqueceu a base rural da economia, apontando para a transformação da agricultura de subsistência numa agricultura de produção comercial, para abastecer as necessidades futuras.
Disse ainda contar com o desenvolvimento da indústria extrativa, nomeadamente de cobre, ouro, magnésio e mármores, para mudar a face do país, mas não escondeu que o “seu” Plano Estratégico de Desenvolvimento tem como principal motor a exploração do gás e petróleo do Mar de Timor.
Xanana nega pretensão da Woodside e recusa-se a receber ministros australianos O primeiro-ministro de Timor-Leste já comunicou à empresa Woodside que não aceita uma plataforma flutuante no campo petrolífero Greater Sunrise e recusa-se a receber dois ministros australianos que pretendem um encontro com ele para discutir o assunto.
Fonte do gabinete de Xanana Gusmão disse à Lusa que foi dada uma resposta na terça-feira à Woodside, mantendo a posição conhecida do Governo timorense, que pretende que seja construído um pipeline para o seu território em vez de uma plataforma flutuante como pretende a empresa australiana.
Segundo a mesma fonte, Xanana Gusmão recusa-se também a receber os ministros australianos dos Negócios Estrangeiros e o da Energia e Recursos, que pretendiam encontrar-se com ele no dia 14, em Aileu, a sul de Díli, para discutir o assunto.
O governo australiano considera que a localização do processamento do gás de Sunrise é "uma decisão comercial" e advertiu o Governo timorense de que espera que cumpra as suas obrigações na exploração conjunta daquele campo.
O ministro da Energia e Recursos da Austrália, Martin Ferguson, em declarações citadas pelo jornal The Australian, havia advertido o governo timorense de que deverá cumprir os acordos petrolíferos existentes, considerando que o local de processamento do gás natural é uma decisão comercial do consórcio para a exploração do campo de Greater Sunrise.
"O governo australiano está comprometido com o Tratado do Mar de Timor, o Acordo Internacional de Utilização Conjunta, e o Tratado sobre Ajustes Marítimos no Mar de Timor. Como sempre dissemos, vamos realizar as nossas obrigações e esperamos que o Governo de Timor-Leste cumpra as suas obrigações", declarou o ministro.
A Woodside anunciou a escolha da construção de uma plataforma flutuante para processar o gás natural extraído do campo Greater Sunrise, no Mar de Timor, em detrimento de o fazer em Timor-Leste, encaminhando-o por um pipeline.
O Governo de Timor-Leste reagiu oficialmente ao anúncio, em comunicado, afirmando que não dá o seu aval a essa solução, "agora e no futuro", e lembrou que o processo terá de ser aprovado pelos governos de Timor e da Austrália, de acordo com o Tratado Petrolífero que rege o campo em causa.
O Greater Sunrise está pronto a ser explorado e possui reservas estimadas em 300 milhões de barris de condensado e 177 milhões de toneladas de gás de petróleo liquefeito, correspondentes a 2,05 mil milhões de barris de petróleo.
in: Notícias Lusófonas - Timor Lorosae