29/01/2008

Remodelação na Saúde

Correia de Campos sai na véspera de dar explicações aos deputados
O demissionário ministro da Saúde anunciava amanhã no Parlamento a rede final de Urgências. A saída surpreende depois de uma entrevista ao Expresso onde garantia permanecer até ao fim do mandato.


Cristina Bernardo Silva e Vera Lúcia Arreigoso
18:41 Terça-feira, 29 de Jan de 2008


A rede final de Serviços de Urgência em todo o país seria apresentada amanhã aos deputados na Comissão Parlamentar de Saúde. A audição do que seria ainda o ministro da Saúde estava marcada logo para as dez horas da manhã mas, afinal, Correia de Campos demitiu-se. "Foi uma surpresa mas acredito que se tratou de uma coincidência" disse ao Expresso a presidente daquela comissão, Maria de Belém. Segundo a carta de demissão, Correia de Campos abandonou funções pela necessidade de manter "a relação de confiança entre os cidadãos e o Serviço Nacional de Saúde". Em causa estarão as polémicas recentes com as Urgências e a Emergência Médica, que terão criado um ambiente de crispação entre doentes e profissionais de saúde à qual o governante não resistiu.
Nas duas últimas semanas, Correia de Campos foi a figura mais contestada no Governo devido à morte de dois bebés e às supostas falhas no socorro pré-hospitalar. A actuação do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) esteve debaixo de fogo e a gota de água foi o telefonema entre uma operadora do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM e os bombeiros voluntários de Favaios e Alijó. Estes episódios obrigaram responsáveis de todo o sector a reunirem de emergência, ontem à tarde, tendo sido reconhecidas as fragilidades do sistema e anunciada a criação de uma rede nacional de ambulâncias.
O percurso acidentado de Correia de Campos ficou ainda marcado pelo encerramento de Serviços de Atendimento Permanente (SAP) e de blocos de parto, pelo braço-de-ferro com os médicos a propósito da alteração ao Código Deontológico na questão do aborto, pela imposição do controlo biométrico da assiduidade aos profissionais de saúde, pela criação de novas taxas moderadoras e pela redução da comparticipação de medicamentos. Ainda assim, foi também ele que liberalizou a propriedade da farmácia, autorizou a venda de medicamentos não sujeitos a receita médica em espaços saúde, aumentou os genéricos em circulação, impôs limites aos preços cobrados pela indústria farmacêutica e preparava-se para permitir a abertura de farmácias de oficina nos hospitais, capazes de dispensar os medicamentos pelo sistema de unidose. Estava em curso a abertura de novas Unidades de Saúde Familiar e a regulamentação da Lei da Procriação Medicamente Assistida. Medidas que o tempo não permitiu tirar do papel. Caberá agora à sucessora, Ana Jorge, decidir o que fazer. Esta lista inclui ainda a construção de novos hospitais, como Faro, Sintra, Cascais e Loures.

In: http://clix.expresso.pt

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